Hoje
me lembrei da minha infância em uma cidadezinha pequenina onde as ruas ainda
eram de terra e quando chovia ficava um lamaçal danado, mas eu gostava.
A
grande alegria da molecada era a chegada do circo na nossa vila, era um circo
pequeno mas com grandes artistas, a charanga muito animada e maluca saia pelas
ruas anunciando a sua chegada, cantando muitas chulas.
Senhoras e
senhores!
Respeitável
público!
Não percam, hoje
às oito da noite, o nosso grande Espetaculo!
Venham, venham,
venham ver...
As atrações que
trazemos para vocês!
Artistas, ilusionistas,
mágicos e malabaristas!
Venham, venham,
venham ver !
As atrações que
trazemos para vocês!
Equilibristas,
contorcionistas, trapezistas e acrobacias!
Venham, venham,
venham ver !
As atrações que
trazemos para vocês!
Mulheres lindas,
palhaços, a xaranga maluca, pipoca e algodão doce!
Vamos, vamos
correndo, o circo vai iniciar a função!!!!
Era
muito bom, eu fui em muitas vezes nesse circo, mas teve duas que marcaram muito
para mim. A primeira foi em uma tarde
muito ensolarada, onde dava para ver os raios de sol adentrando pelos buracos
que existia no interior da lona, com arquibancada de madeira rustica, era uma
imagem muito linda, os artistas interagiam com o ambiente, o céu estava sempre
ao seu favor, a coisa mais linda de se ver. Eu ficava com vontade de ir embora
com a trupe para conhecer outros lugares, mas eu não podia porque eu era
pequeno, e não poderia deixar minha querida mãe e meus irmãos sozinho na minha
casa. Se eu fosse o que seria deles!
Por
este motivo eu resolvi ficar e não acompanhei o circo, sei que tudo tem seu
tempo certo.
A
segunda vez que também foi muito emocionante ir naquele circo, não era hora do espetáculo mas eu tinha feito amizade com os artistas, e eu comecei visitar
ele, conversava com o malabarista e com as lindas bailarinas, observava
atentamente os trapezistas que pareciam anjos no céu, fazendo acrobacias
arriscadas e adora ver aquele palhaço atrapalhado e atrapalhando do mundo ,
eu ria muito com ele, mas teve um dia que eu percebi que aquele palhaço engraçadíssimo não estava tão feliz com nos outros dias, ele estava triste e
chorando, ai eu fui devagarinho se aproximando dele, ele nem percebeu minha
presença, foi quando eu vi na mão dele uma foto, eu muito curioso perguntei a
ele, porque estava triste.
O
palhaço começou a secar os olhos com as mangas da camisa.
Ele
me perguntou?
--
Menino quantos anos você tem?
Ai
eu disse que tinha sete anos.
O
palhaço começou a contar que tem um filho e faria sete anos também, e
participava junto com ele dos números no picadeiro, ele ficava muito emocionado
por poder dividir a sua arte com seu filho. Eram a atração principal do espetáculo, as crianças ia ao delírio com os palhaços Picolino e Picolini.
Mas
o circo passava por algumas dificuldades, não tinha muitos espaços para erguer
a lona, tinha cidades que não permitia entrada de animais, com isso começou a
diminuir o publico, e ele começou ter
dificuldade financeira, tinha dia que tinha dinheiro e tinha dia que não tinha
dinheiro e sua mulher que era a bailarina do circo, resolveu voltar morar com
sua família que não era de circo e levou o seu filho junto, o pequeno
palhacinho. Agora ele se apresenta sozinho no picadeiro e vê o filho de vez em quando, quando dá.
Ele
terminou de me contar essa triste estoria, limpou os olhos e me disse que o espetáculo nunca pode parar.
Hoje
eu percebo como a vida de um artista não é fácil mas eles tem uma coisa muito
especial, que é a magia de super os grandes desafios, e nos ensina que temos
que buscar os nossos sonhos, que sempre será possível.
Texto: Claudiano Dias.
Texto: Claudiano Dias.